Ser Cristão é
ser Missionário
Era a
festa que anunciava o fim do Ramadão. A Comunidade Muçulmana celebrava o fim de
30 dias de jejum e de sacrifícios. Para nós, era tempo de vencer barreiras e
lutar pela boa continuação das nossas relações.
É certo
que, por aqui, nunca tivemos problemas ligados à luta de religiões, mas há que
continuar a evangelizar “a tempo e a contra-tempo”.
Assim,
convidamos as crianças muçulmanas a celebrar connosco esta festa.
O dia
era chuvoso e ninguém chegava à Missão. A Márcia e eu que estávamos a tentar
acabar de pintar uma das nossas escolas e íamos estando atentas ao que ia
passando no caminho. De repente, umas trinta crianças muçulmanas, com
gargalhadas bem sonoras, corriam em direcção à nossa casa.
Com as
mãos bem cheias de tinta, corremos nós também, para as recebermos.
A
Márcia pegou na saca dos rebuçados (que tínhamos preparado para esta ocasião) e
eu na máquina fotográfica. Fomos todos para o jardim da casa e lá, no meio de
cânticos e danças árabes fizemos a festa.
As crianças,
os rebuçados e a máquina fotográfica foram ganhando as cores com que eu e a
Márcia estávamos a pintar a escola e, como qualquer grande família (onde todos
são ilhós do mesmo Pai), à noite os pais destas crianças enviaram-nos um dos
pratos típicos desta época. Um gesto simbólico que é para nós um símbolo de paz
e de fraternidade.
Neste
mundo onde a luta de religiões é constante, a nossa identidade, aqui deste
lado, não se perde, ao contrário, é o respeito pelas nossas diferenças que nos
unem e nos fazem crescer.
Sem
fanatismos nem descriminação, vamos traçando novos caminhos de paz onde todos
podemos festejar juntos o Deus da Vida.
Nas
nossas escolas católicas, as crianças muçulmanas são também uma presença
constante. Com elas, sem conflitos, rezamos e partilhamos a alegria de ser
Filhos de Deus.
Também
aqui, as crianças, num espírito missionário, partilham o entusiasmo de
aprenderem e celebrarem Jesus – o Filho de Deus.
Em
muitas das visitas do nosso presidente da Câmara (muçulmano) à Missão, discutimos
com amizade sobre os pontos que nos unem, não procurando reduzir a nossa
dimensão religiosa ou a nossa fé mas procurando, naquilo que nos une, novos
caminhos de paz para todos, independente da religião a que pertencemos.
Recordo
as suas palavras quando veio à nossa igreja para assistir à chegada oficial da
nova comunidade comboniana, na presença do bispo e de toda a comunidade cristã,
este muçulmano ousou subir ao altar e com voz forte dirigiu-se à Comunidade
Cristã:
-
“Saúdo-vos em nome de Cristo” – disse ele – “Hoje a Igreja Católica é abençoada
com a chegada destes dois padres. Peço-vos que os acolhais bem e que não haja
nem na vossa vida nem na vossa oração, divisão ou discórdia. Sede coerentes com
o que diz a Igreja e com a Palavra de Deus”
Porque
somos cristãos, que a nossa coerência nos leve, pois, num espírito missionário,
a celebrar com alegria o Deus da Vida com todos os que nos estão ora mais
próximos ora mais afastados.
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