quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Aprender da/com a diferença


“O desafio da inculturação:
A diversidade de culturas na Missão."

David era um bebé pigmeu órfão que a missão ajudou a guardar durante alguns meses mas que, por negligência médica morreu com 18 meses. Naquele Domingo a Lídia (uma pigmeia que trabalha connosco) veio mostrar-nos o acampamento do David.

Na verdade, um cooperante tinha vindo visitar a nossa missão com a sua irmã e nunca tinham visto um acampamento pigmeu. Assim, lá fomos e chegando ao acampamento todos tinham já partido para a floresta, estando as “casas” vazias.
Entrei na casa do David e ao ver um monte de terra debaixo do sítio onde os avós do pequeno dormem, perguntei à Lídia o que era aquilo. Ela disse, baixando os olhos: “É o David”. Percebi, então, que aí o tinham enterrado.
Voltamos para casa. Durante o caminho perguntei-lhe a razão para enterrar a criança no sítio onde se dorme e ela respondeu: “Ai Susana, já estás a perguntar demais”. Mas como eu permanecia em silêncio, ela continuou: “Os bebés são sempre enterrados dentro de casa, para estarem protegidos da chuva, e debaixo da “cama” para que a mãe continue a dormir com o seu bebé”.
Interessante a explicação mas agora era a vez da Lídia perguntar. “Este rapaz e esta rapariga que vieram connosco” – perguntou ela – “são casados?”
-“Não. São irmãos.” – Respondi eu.
Como a Lídia parecia não acreditar eu expliquei que eles mesmo irmãos – filhos do mesmo pai e da mesma mãe e que era normal esta boa relação entre eles.
Ela ficou surpreendida e perguntou se, na minha terra, era normal que os filhos fossem sempre do mesmo pai e da mesma mãe e tentava compreender a nossa “organização” familiar. Às respostas que eu ia dando, a sua reacção era um misto de admiração e de análise.
Assim, nesta partilha de experiências e de culturas chegamos a casa, as duas contentes de conhecer um pouco mais da vida e do “mundo” uma da outra.
A cultura e as tradições dos pigmeus permanecem bem guardadas e escondidas dos olhos curiosos de quem visita este povo.
A Lídia só respondeu às minhas perguntas devido à relação pessoal que temos e pela amizade que se foi formando entre nós nos últimos anos.
As suas respostas em relação à sua cultura, fizeram-me perceber que só amando um povo se pode chegar a conhecer e a compreender a sua cultura. Na verdade, na Missão, o Amor é a base da inculturação e o motor do desenvolvimento.

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