“Educação
para todos: mito ou realidade?"
Setembro chegou. Por aqui, estamos longe de ter uma entrada
escolar cheia de materiais escolares e de entusiasmo. Na verdade, para trás não
ficaram as férias mas, dois meses de trabalho duro!
O João é um dos nossos melhores alunos. Este ano, se tudo
correr como previsto irá terminar a escola primária. Ele habita num acampamento
a 4km da escola. Todos os dias, ele faz este trajecto pela floresta e consegue
ser sempre um dos primeiros a chegar.
Logo após a festa da escola, no início de Julho, o João,
como todas as outras crianças pigmeias, partiu para o interior da floresta,
onde permaneceu até agora. Na verdade, nesta altura do ano, todos se dirigem ao
coração da floresta em busca das lagartas de certas árvores que são muito boas
e nutritivas. Durante este tempo, não há tempo para diversões. Há que levantar
cedo e pôr-se ao trabalho. Também está fora de questão ficar doente ou parar
para rever o que se aprendeu durante ano escolar que terminou. Aqui, vigora a “lei
do mais forte”, a “lei da selva”: a lei da sobrevivência! Após esta longa
estadia em condições estremas e sem nenhuma assistência sanitária, muitas
crianças, jovens e adultos acabam por perder a vida. Na verdade, tanto tentam
não abandonar os locais onde podem recolher alimento para algum tempo e a
possibilidade de vender estas lagartas fumadas na aldeia, que acabam por
atingir o limite da resistência física e sucumbir à doença.
Não se trata de uma escolha, trata-se da maior
possibilidade de conseguir algo para sobreviver, este é, para os que
“sobrevivem” o momento mais “rentável” do ano.
O nosso João já regressou, este ano ainda está nas escolas
seguidas pela missão. Para o ano que vem, ele com os seus colegas de turma,
passarão o desafio mais duro das suas vidas: entrar na escola pública! Aí,
vigora a “lei da discriminação”, a “lei da greve do professor”: a lei da
sobrevivência!
Deste desafio, muito poucos “sobrevivem”, muitos no passado
abandonaram a escola neste primeiro ano no ensino público, muitos tornaram-se
mão-de-obra barata nas mãos dos professores e directores de escola, outros
tornaram-se alvo de chacota para as outras crianças da mesma idade e a maioria
foi vitima de violência física durante o tempo de escola, no entanto, cheio de
esperança, o nosso João quer continuar a ser o melhor da turma mesmo no ano que
vem e nos anos que se seguem.
Sem materiais escolares, sem professores qualificados
e sob a discriminação racial constante, as crianças desta etnia unem esforços
para avançar. O direito à Educação e o direito a ser criança estão ainda longe
de ser uma realidade mas a luta pela sobrevivência transforma-se numa lição bem
aprendida na floresta para praticar no meio da sociedade.
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