Quem disse que a escravatura terminou?
Em plena floresta africana, nem sempre é fácil visitar os acampamentos mais longínquos, no entanto, as vezes que visitei alguns destes acampamentos constatei que, a presença de gente da aldeia, não parava de aumentar. Que quer isto dizer?
Em plena floresta africana, nem sempre é fácil visitar os acampamentos mais longínquos, no entanto, as vezes que visitei alguns destes acampamentos constatei que, a presença de gente da aldeia, não parava de aumentar. Que quer isto dizer?
Perguntando
aos pigmeus, estes baixam os olhos e, sem me olharem, dizem baixinho: “Ala ga
ti sala yaka ti ala” = “eles vieram para trabalharem os seus campos.”
Tudo estaria
bem se assim fosse, mas, a verdade é que, sempre que me apercebo que essa gente
lhes pede dinheiro, interrogando-os, os pigmeus ficam em silêncio, sem
conseguirem me dar uma explicação.
Falando com o
nosso responsável pela CARITAS Paroquial, a resposta foi simples: “Susana, essa
situação de escravatura existia em todos os acampamentos. Ora, com a presença
constante dos animadores da CARITAS e dos LMC, essa situação foi desaparecendo
mas, como agora, devido à situação económica da CARITAS, eu estou sozinho como
animador e como a comunidade de LMC está reduzida ao mínimo, como fazer para
chegar e seguir de perto estes acampamentos mais longínquos?!”
Claro que a
resposta mais rápida seria: “vamos denunciar esta situação às autoridades!”,
mas, por um lado, aqui, os brancos são vistos como ricos de quem se deve fazer
tudo para tirar dinheiro, por outro lado, os pigmeus não são considerados como
pessoas (sobretudo, como pessoas com direitos!).
Então que
fazer? Esperar que a situação mude em relação aos animadores da CARITAS ou em
relação ao número de LMC aqui presente?
A resposta não
é fácil e implica uma luta constante todos os dias e em cada dia. Há que ter
forças para tentar fazer um seguimento de perto aos acampamentos mais distantes
e tentar, pouco a pouco e com a ajuda de Deus, mudar a mentalidade tanto de
quem escraviza como de quem se acha sem forças nem direito para gritar os seus
direitos!
O medo é a
raiz de toda a escravatura e, aqui, os pigmeus vivem numa corrente de medo
constante. Neles, persiste a ideia de que não são nada e que, por isso mesmo,
precisam dos seus senhores para serem protegidos.
Quanto aos
habitantes da aldeia… bom, aqui em Centro-áfrica há uma expressão popular que
diz: “cada centro-africano com o seu pigmeu!” Ora, se já é difícil de escapar
das “mãos dos seus senhores” quando este vivem na aldeia, quando estes mudam as
suas casas para o centro dos acampamentos pigmeus, a situação torna-se
insustentável.
Pois é, a mentalidade e a maneira de viver deste povo fazem com que a luta pela justiça e pela igualdade sejam uma constante no nosso dia-a-dia aqui, deste lado do mundo.
Pois é, a mentalidade e a maneira de viver deste povo fazem com que a luta pela justiça e pela igualdade sejam uma constante no nosso dia-a-dia aqui, deste lado do mundo.
Parece
impossível alterar a situação… mesmo os grandes cristãos têm os seus pigmeus…!
Que fazer? Desistir?! Nunca! O Deus da Esperança sempre nos acompanha e, em
cada dia, nos vai mostrando que não estamos sós nesta luta. Por isso, em cada
manhã, o despertar para mais um dia, vem com o cansaço humano imbuído por um
espírito de Esperança e Alegria.
Afinal, quem
trabalha para Deus, nunca trabalha numa causa perdida!
Por isso, hoje
vos escrevo, porque, para mim, para combater uma corrente de injustiça e
escravatura, há que formar uma corrente de Esperança e oração. Conto convosco
neste projecto e “que Deus, de quem vem a
Esperança, vos encha de Alegria e Paz na fé, para que essa Esperança seja cada
vez maior, pelo poder do Espírito Santo” (Rm 15, 13).
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