terça-feira, 2 de outubro de 2012

Nas teias da submissão


Quem disse que a escravatura terminou?
Em plena floresta africana, nem sempre é fácil visitar os acampamentos mais longínquos, no entanto, as vezes que visitei alguns destes acampamentos constatei que, a presença de gente da aldeia, não parava de aumentar. Que quer isto dizer?
Perguntando aos pigmeus, estes baixam os olhos e, sem me olharem, dizem baixinho: “Ala ga ti sala yaka ti ala” = “eles vieram para trabalharem os seus campos.”
Tudo estaria bem se assim fosse, mas, a verdade é que, sempre que me apercebo que essa gente lhes pede dinheiro, interrogando-os, os pigmeus ficam em silêncio, sem conseguirem me dar uma explicação.
Falando com o nosso responsável pela CARITAS Paroquial, a resposta foi simples: “Susana, essa situação de escravatura existia em todos os acampamentos. Ora, com a presença constante dos animadores da CARITAS e dos LMC, essa situação foi desaparecendo mas, como agora, devido à situação económica da CARITAS, eu estou sozinho como animador e como a comunidade de LMC está reduzida ao mínimo, como fazer para chegar e seguir de perto estes acampamentos mais longínquos?!”
Claro que a resposta mais rápida seria: “vamos denunciar esta situação às autoridades!”, mas, por um lado, aqui, os brancos são vistos como ricos de quem se deve fazer tudo para tirar dinheiro, por outro lado, os pigmeus não são considerados como pessoas (sobretudo, como pessoas com direitos!).
Então que fazer? Esperar que a situação mude em relação aos animadores da CARITAS ou em relação ao número de LMC aqui presente?
A resposta não é fácil e implica uma luta constante todos os dias e em cada dia. Há que ter forças para tentar fazer um seguimento de perto aos acampamentos mais distantes e tentar, pouco a pouco e com a ajuda de Deus, mudar a mentalidade tanto de quem escraviza como de quem se acha sem forças nem direito para gritar os seus direitos!
O medo é a raiz de toda a escravatura e, aqui, os pigmeus vivem numa corrente de medo constante. Neles, persiste a ideia de que não são nada e que, por isso mesmo, precisam dos seus senhores para serem protegidos.
Quanto aos habitantes da aldeia… bom, aqui em Centro-áfrica há uma expressão popular que diz: “cada centro-africano com o seu pigmeu!” Ora, se já é difícil de escapar das “mãos dos seus senhores” quando este vivem na aldeia, quando estes mudam as suas casas para o centro dos acampamentos pigmeus, a situação torna-se insustentável.
Pois é, a mentalidade e a maneira de viver deste povo fazem com que a luta pela justiça e pela igualdade sejam uma constante no nosso dia-a-dia aqui, deste lado do mundo.
Parece impossível alterar a situação… mesmo os grandes cristãos têm os seus pigmeus…! Que fazer? Desistir?! Nunca! O Deus da Esperança sempre nos acompanha e, em cada dia, nos vai mostrando que não estamos sós nesta luta. Por isso, em cada manhã, o despertar para mais um dia, vem com o cansaço humano imbuído por um espírito de Esperança e Alegria.
Afinal, quem trabalha para Deus, nunca trabalha numa causa perdida!
Por isso, hoje vos escrevo, porque, para mim, para combater uma corrente de injustiça e escravatura, há que formar uma corrente de Esperança e oração. Conto convosco neste projecto e “que Deus, de quem vem a Esperança, vos encha de Alegria e Paz na fé, para que essa Esperança seja cada vez maior, pelo poder do Espírito Santo” (Rm 15, 13).


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