terça-feira, 9 de outubro de 2012


“As razões da nossa Esperança "

Naquela manhã, um jovem rapaz veio à Missão pedir uma ajuda para a sua mulher que, tendo dado à luz quase há uma semana, continuava sem leite para o bebé. A Maria Augusta deu-lhe um biberão com leite para o bebé e um dos seus chazinhos “milagrosos” para fazer vir o leite à jovem mãe.
No dia seguinte, o jovem devolveu o biberão pois a esposa começava já a ter leite. Pediu-nos trabalho para conseguir pagar os medicamentos e a estadia no hospital. Nós aceitamos e sempre íamos perguntando pelo bebé e pela mãe até que, dias mais tarde, a avó da criança disse-nos que a sua filha continuava a ter pouco leite e que o bebé chorava muito. Aí descobrimos que o bebé estava tão mal que andavam-lhe a dar injecções e todo o tipo de antibióticos.
Fomos pois ao hospital e encontramos o pequeno André com desidratado, malnutrido e com uma micose que lhe ocupava toda a boca. Nos últimos dias ele tinha perdido um terço do seu peso! Que fazer? Felizmente, tínhamos o medicamento adequado para este tipo de micoses (um medicamento caro que não se vende aqui no mato). Começamos a dar o medicamento à criança e, como esta já não conseguia comer, começamos a dar o leite aos bocadinhos com a ajuda de uma seringa.

Era Domingo e nem dava para descansar. Em todo o dia o nosso Andrézinho tomou 70ml de leite (em vez dos 630ml que deveria)! Sem desistir, demos um pouco de leite dentro de um termos para a noite.
No dia seguinte, a Augusta partiu para as escolas, eu tentei recomeçar, com a seringa a dar-lhe o leite, mas o bebé só vomitava. Os olhos perdidos, não conseguia engolir nem uma gota. A avó que o tinha ao colo evitava que as lágrimas corressem e eu tentava buscar palavras de ânimo mesmo que cada respiro do pequeno me parecesse que seria o último.
Passou nesse momento pela Missão o animador missionário que vendo-me disse:
- Temos de te fazer uma foto a dar o leite com a seringa a esse bebé.
Eu pedi-lhe para não brincar pois o bebé estava muito mal e, portanto, não era hora de fazer fotografias. Com muita calma ele continuou:
- É preciso fazer uma foto para que servia de testemunho. O que estás a fazer não é para seres aplaudida mas para salvar uma vida e isso deve ser testemunho e exemplo para todos!
Sempre com o bebé a vomitar sem forças para continuar agradecer a Deus a riqueza que acabava de escutar deste animador missionário da nossa paróquia, chamei o nosso enfermeiro para que fosse com a avó e o bebé ao enfermeiro responsável do hospital. Eles foram, na receita vinham mil injecções para parar o vómito e nada para resover o verdadeiro problema. Pedi ao enfermeiro que voltasse ao hospital e que convencesse lá o pessoal a meter a criança a soro para tentar hidratá-la.
Graças a Deus, eles concordaram! No dia seguinte o André já tomava um pouco de leite. Voltamos a dar o chazinho da Maria Augusta à mãe que, pouco a pouco, começou a conseguir amamentar.
Algumas semanas depois da partida desta família, encontramos, por acaso, o jovem papá e perguntámos-lhe pelo André.
- Está grande! – Respondeu ele.
Lá nos despedimos e a Augusta só dizia:
- Esta vivo graças a nós.
- Graças a Deus, queres tu dizer. – Respondi eu.
- Sim, – continuou ela – mas nós demos uma boa mãozinha para o salvar!
É assim o nosso dia a dia: uma luta constante pela vida. Sempre na certeza que é Deus quem salva, mas que nós podemos dar sempre uma mãozinha!
Quanto aos finais menos felizes destas lutas, não nos fazem perder a fé nem a esperança, ao contrário, são força para continuar a lutar para que outros possam ter Vida e tê-la em abundância.

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