“As
razões da nossa Esperança "
Naquela manhã, um jovem rapaz veio à Missão pedir uma ajuda
para a sua mulher que, tendo dado à luz quase há uma semana, continuava sem
leite para o bebé. A Maria Augusta deu-lhe um biberão com leite para o bebé e
um dos seus chazinhos “milagrosos” para fazer vir o leite à jovem mãe.
No dia seguinte, o jovem devolveu o biberão pois a esposa
começava já a ter leite. Pediu-nos trabalho para conseguir pagar os
medicamentos e a estadia no hospital. Nós aceitamos e sempre íamos perguntando
pelo bebé e pela mãe até que, dias mais tarde, a avó da criança disse-nos que a
sua filha continuava a ter pouco leite e que o bebé chorava muito. Aí
descobrimos que o bebé estava tão mal que andavam-lhe a dar injecções e todo o
tipo de antibióticos.
Fomos pois ao hospital e encontramos o pequeno André com
desidratado, malnutrido e com uma micose que lhe ocupava toda a boca. Nos
últimos dias ele tinha perdido um terço do seu peso! Que fazer? Felizmente,
tínhamos o medicamento adequado para este tipo de micoses (um medicamento caro
que não se vende aqui no mato). Começamos a dar o medicamento à criança e, como
esta já não conseguia comer, começamos a dar o leite aos bocadinhos com a ajuda
de uma seringa.
Era Domingo e nem dava para descansar. Em todo o dia o
nosso Andrézinho tomou 70ml de leite (em vez dos 630ml que deveria)! Sem
desistir, demos um pouco de leite dentro de um termos para a noite.
No dia seguinte, a Augusta partiu para as escolas, eu
tentei recomeçar, com a seringa a dar-lhe o leite, mas o bebé só vomitava. Os
olhos perdidos, não conseguia engolir nem uma gota. A avó que o tinha ao colo
evitava que as lágrimas corressem e eu tentava buscar palavras de ânimo mesmo
que cada respiro do pequeno me parecesse que seria o último.
Passou nesse momento pela Missão o animador missionário que
vendo-me disse:
- Temos de te fazer uma foto a dar o leite com a seringa a
esse bebé.
Eu pedi-lhe para não brincar pois o bebé estava muito mal
e, portanto, não era hora de fazer fotografias. Com muita calma ele continuou:
- É preciso fazer uma foto para que servia de testemunho. O
que estás a fazer não é para seres aplaudida mas para salvar uma vida e isso
deve ser testemunho e exemplo para todos!
Sempre com o bebé a vomitar sem forças para continuar agradecer
a Deus a riqueza que acabava de escutar deste animador missionário da nossa
paróquia, chamei o nosso enfermeiro para que fosse com a avó e o bebé ao
enfermeiro responsável do hospital. Eles foram, na receita vinham mil injecções
para parar o vómito e nada para resover o verdadeiro problema. Pedi ao
enfermeiro que voltasse ao hospital e que convencesse lá o pessoal a meter a
criança a soro para tentar hidratá-la.
Graças a Deus, eles concordaram! No dia seguinte o André já
tomava um pouco de leite. Voltamos a dar o chazinho da Maria Augusta à mãe que,
pouco a pouco, começou a conseguir amamentar.
Algumas semanas depois da partida desta família,
encontramos, por acaso, o jovem papá e perguntámos-lhe pelo André.
- Está grande! – Respondeu ele.
Lá nos despedimos e a Augusta só dizia:
- Esta vivo graças a nós.
- Graças a Deus, queres tu dizer. – Respondi eu.
- Sim, – continuou ela – mas nós demos uma boa mãozinha
para o salvar!
É assim o nosso dia a dia: uma luta constante pela vida.
Sempre na certeza que é Deus quem salva, mas que nós podemos dar sempre uma
mãozinha!
Quanto aos finais menos felizes destas lutas, não nos
fazem perder a fé nem a esperança, ao contrário, são força para continuar a
lutar para que outros possam ter Vida e tê-la em abundância.
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