“Cristo
Vivo na Missão para que todos possam ter Vida"
O Pedro tem 5 anos, é mudo e a sua mãe é viúva já há alguns
anos. Um dia, o Pedro caiu no fogo e ficou com metade do corpo queimado. Assim,
conhecemos nós o Pedro.
Quando foi visto no hospital, a situação foi considerada
“demasiado grave” e, por isso, foi-lhe negada a possibilidade de ficar
internado. Guardamos, pois, o Pedro, com a sua mãe e os seus dois irmãozinhos,
no nosso centro para deficientes durante um ano.
Durante este tempo, o seu irmão mais novo, João, ficou
doente. A mãe tinha partido para a floresta em busca de comida e as crianças
estavam sozinhas. Assim, enviamos o pequeno João, com 40º de febre, com o nosso
enfermeiro ao hospital.
Como o nosso enfermeiro, após a consulta, se cansou de
esperar pelo pessoal do hospital para pôr o soro na criança, foi-se embora.
O nosso
Joãozinho, com apenas três anos, passou, assim, um dia inteiro no hospital a
fim de receber o tratamento adequado. Ali, sozinho sobre a cama do hospital,
esperou que lhe pusessem o soro… finalmente, cansado de esperar, saiu com os
medicamentos na mão.
Claro que isto
implicou uma acção radical com o hospital. Graças a Deus o Joãozinho não morreu
mas acabou por receber o soro, no dia seguinte, pelas mãos do nosso enfermeiro
socorrista (contra a autorização do hospital…).
Levamos o caso
às autoridades locais (já que a justiça por cá é lenta demais e injusta para
brancos e pigmeus…). Após a reunião, o Presidente da Câmara pede ao chefe do
hospital que faça um pedido de desculpas formal. Este, fê-lo, pedindo-me
“perdão pelo que aconteceu com João”. Eu, que não estava lá para ouvir
histórias, respondi que o pedido de perdão seria transmitido à família do
pequenino e que, com certeza, seria aceite. Assim, pela primeira vez, um Bantú (não-pigmeu) viu-se obrigado a
pedir oficialmente perdão a um pigmeu.
No final, o
Presidente de Câmara pediu-me que termina-se a reunião com uma oração (faz
parte da tradição começar e terminar sempre com uma oração). Como nem todos
eram católicos e como me parecia ser o mais adequado, rezei o pai-nosso. No
fim, após um breve silêncio, o Presidente da Câmara (mulçumano) exclamou: “esta
oração entrou-me nas veias como um soro quando estamos doentes”.
É assim a
nossa vida quotidiana. Há que vivê-la com o coração sem cortar relações mas
procurando, a cada instante, uma ponte que nos faça seguir juntos rumo ao
desenvolvimento, justos rumo aos verdadeiros valores da vida humana.
Quanto ao nosso Pedrocas, quando finalmente as queimaduras
cicatrizaram, verificamos que a cabeça estava ligeiramente colada ao ombro e
que o baço direito também não estava completamente livre. Assim, aproveitamos a
vinda de um cirurgião francês que veio para operar crianças deficientes aqui ao
nosso centro, e operamos o nosso Pierre.
Hoje, faz mais de um ano que ele se encontra, com a
família, no acampamento e, embora não fale, quando ouve a nossa voz sempre
sorri. Quanto ao Joãozinho, está muito maior e não resiste a se aproximar
quando paramos o carro no caminho da sua casa.
Que Deus continue, pois, a fazer-se presente no meio
de nós e a ajudar-nos a ser instrumentos de Vida para que todos possam tê-la em
abundância.
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