quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Natal em tempo de guerra


“E o Verbo fez-se carne… Poderá Ele habitar entre nós?"

Quisemos festejar o Natal 2009, com a comunidade cristã de toda a Paróquia. Para isso organizamos 3 Eucaristias no dia 24 e 2 no dia 25 para assim, chegarmos aos cristãos presentes nas nossas 17 capelas.
No dia 24 acompanhei o Padre José (mccj) a Zinga, a 20km do Centro de Mongoumba. Ao aproximar-me da aldeia pedi-lhe que parasse o carro para dar boleia a alguém que se dirigia para lá para nos indicar o caminho, pois, os quase 6.000 refugiados vindos do Congo inundavam a estrada de tal maneira que a entrada da aldeia estava irreconhecível e o risco de nos perdermos era enorme.
No dia 25 acompanhei o Padre Jesus (mccj) a IkumbaI, uma pequena aldeia a 15km do centro de Mongoumba. Chegando lá, deparamo-nos com o mesmo cenário: quase 3.000 refugiados ocupavam desde a entrada até ao fundo da aldeia.
Este mar de gente em aldeias de 250 a 300 habitantes torna a paisagem irreconhecível.
Não é a primeira vez que vivemos, no Natal, esta situação. Em 2000, esta mesma gente fugia da guerra, hoje, fogem de uma guerra que crêem existir. Na verdade, esta gente foge porque ouviu dizer que os rebeldes viriam atacar e que há um jovem feiticeiro que, só com o pensamento, é capaz de matar quem se cruza no seu caminho.
No final de contas, esta gente foge porque tem medo e os governos aproveitam este medo para fomentar esta movimentação de pessoas. Por aqui, a campanha eleitoral aproximava-se e, claro, com todos os organismos internacionais presentes no país em plena acção em favor desta gente, politicamente, dá uma boa campanha.
Mas, voltemos à missa de Natal, tendo mais de 80% dos participantes congoleses, o Pe. Jesus ainda arriscou uma saudação em lingala. Mas, o momento mais forte foi quando, com ajuda de um tradutor, lhes explicou que Jesus, o Filho de Deus, teve também que fugir para um país estrangeiro, que a fuga para o Egipto fez de Jesus o primeiro refugiado e que, por isso, naquele Natal, também ELE estava com a sua tenda no meio deles partilhando o seu sofrimento.
Para a maioria este é o segundo Natal das suas vidas passado em terra estrangeira, para os mais novos, esta é uma experiência que não será esquecida, para outros, esta terra será o lugar de nascimento e, para alguns, o lugar da morte.
Natal é tempo de paz e de alegria. Esta gente, com a ajuda dos Cristão de Mongoumba, tenta vivê-lo da melhor maneira possível. Em cada tenda, Cristo se faz presente partilhando a falta de água, de luz, de comida, de saúde e as dificuldades de comunicação, mas, sobretudo, em cada tenda, ELE renasce e se faz presente no coração de cada um.

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